OS 10 MANDAMENTOS DA COLORAÇÃO
Louro manchado, castanho alaranjado, nuance que desbota com facilidade...Sim, há mais pecados contra os fios das clientes do que se imagina nos salões afora... Para percorrer o caminho certo, conheça as regrinhas básicas rumo ao paraíso do bom atendimento. Heresia mesmo é deixar de segui-las!
Errar é humano, perdoar é divino", diz o ditado. Porém, existem erros graves o suficiente para levar a carreira de qualquer cabeleireiro para o purgatório (ou direto para o inferno, dependendo da intensidade da ira da cliente). Esses equívocos costumam acometer principalmente a sagrada cerimônia da coloração – que mulher nunca saiu de um salão se sentindo divina depois de mudar o visual com uma cor perfeita? Produtos de má qualidade, desrespeito às instruções dos fabricantes, pouco domínio da técnica, procedimentos impróprios de decapagem ou descoloração, desconhecimento de fórmulas e mix de tinturas...A lista de pecados mortais contra as madeixas não tem fim. Alguns mandamentos vindos direto do céu (ou melhor, da experiência de profissionais consagrados), entretanto, têm o poder de fazer brilhar uma verdadeira luz divina no seu trabalho, no seu espaço de beleza e no cabelo de quem passar por suas mãos celestiais. Siga:
Um cabeleireiro que reza direitinho a bíblia do bom profissional sabe que nem tudo o que a cliente deseja pode se tornar viável – ou bonito. Com muito tato e delicadeza, sempre vale a pena convencê-la de que a cor do cabelo da atriz da foto que ela trouxe de referência não vai cair bem (um argumento que é tiro e queda é que ela vai parecer mais velha). Analisar o tom de pele dela e fazer sugestões pertinentes, portanto, é um mandamento importantíssimo. “Hoje em dia a personalização do trabalho é um princípio básico, porém existem algumas regrinhas que sempre vão prevalecer: tons frios sempre vão melhor para peles claras e os quentes para as mais morenas”, conta Jô Nascimento. “É claro que dentro de uma liberdade de estilos podemos fazer combinações que valorizem o visual. Um bom exemplo é o da brasileira com tez morena, amarelada, que adora exibir um louro cinza. Não é a melhor opção para esse biótipo, é óbvio, mas podemos satisfazer a cliente dando-lhe um fundo marrom (quente) e mechas ou clareamentos localizados de louros acinzentados”, completa. O expert Célio Faria aconselha marrons quentes e louro-mel para negras, que devem evitar o louro muito claro, e bases escuras e colorações avermelhadas para as orientais, que não combinam com tonalidades pastel. Já Mauricio Morelli, vencedor na categoria Colorista Revelação do 1º Prêmio CABELOS&CIA, avisa que descendentes de povos indígenas devem fugir das nuances acobreadas, pois o tom sobre tom não causa um contraste interessante. “Vale optar por marrom escuro”, pontua, e dá uma dica final: “Cores muito claras, dependendo da pele, podem criar um contraste artificial”. IV Descolorirás na medida certa Tempo demais ou de menos, cosméticos de má qualidade, negligência com o estado das madeixas da cliente... São vários os pecados mortais que podem ser cometidos na hora de criar mechas ou luzes. “O segredo é ter conhecimento técnico e prático, trabalhar com produtos de qualidade e fazer uma análise capilar antes do processo químico. Só assim o profissional terá condições para definir quais fórmulas vai utilizar e como chegar ao resultado desejado”, diz Mauricio Morelli. “É essencial definir a altura do tom desejado e observar o fundo de clareamento, algo imprescindível em qualquer descoloração”, salienta Célio Faria. V Recomendarás tratamentos e hidratações “Todo cabelo tratado quimicamente precisa de hidratação, nutrição ou reconstrução, principalmente num país tropical como o nosso, em que o sol, o calor e as lavagens sucessivas ajudam a retirar a umidade natural dos fios”, declara Angela Carla, diretora técnica da Yellow, divisão da AlfaParf Milano. O ideal, segundo a maior parte dos especialistas, é nutrir a cabeleira no salão a cada 20 dias, em média, conforme o estado da fibra. “Um detalhe muito importante para quem colore é o uso, em casa, de linhas de xampus e condicionadores específicos para cabelos coloridos, que, entre outros benefícios trazem na sua composição antioxidantes”, explica Jô Nascimento. Um profissional que conhece bem o caminho do céu deve (e sabe) indicar para sua cliente os produtos adequados para a manutenção caseira – pelo menos uma vez por semana – do balanço, da maciez, do brilho... No salão, Mauricio Morelli recomenda para os fios louros uma sessão de cauterização a cada processo de clareamento. “Os castanhos e pretos precisam de tratamentos anti-oxidantes e com proteção da cor para garantir o brilho. A cauterização ajuda a selar as cutículas e preserva os pigmentos”, completa. Para os vermelhos, ele aconselha, além da cauterização, hidratações em casa a cada três higienizações. VI Farás decapagem segura A técnica específica para descolorir fios já coloridos exige uma avaliação minuciosa das condições da fibra, segundo Juha Antero, o mago das celebridades do MG Hair Design, em São Paulo. “Um bom profissional deve analisar a textura capilar, sua resistência e elasticidade, saber qual cor foi utilizada anteriormente e perguntar à cliente sobre o histórico do cabelo”, afirma. Após o estudo das madeixas, elas são divididas e aplica-se o produto descolorante – de qualidade e específico para decapagem, por favor! – mecha por mecha, deixando a raiz por último. “Decapagem é um processo químico muito forte e que exige muita atenção! Observe os fios bem de perto o tempo todo”, destaca Juha. Já Mauricio Morelli, do Vimax, tem uma dica interessante: “Sempre inicie a decapagem com o clareador específico para esse trabalho e água quente. Dessa forma, é possível ver onde estão mais concentrados os pigmentos e onde a fibra está mais sensível”.
“Num país tropical, o desbotamento das cores é algo inevitável. O ideal é que, no período entre colorações, se faça uma emulsão (pode ser com tonalizante) do reflexo que foi aplicado”, adverte Jô Nascimento. Se a cliente é adepta das escovações semanais (ou até duas vezes na semana), o hairstylist Célio Faria costu ma proteger os fios com produtos termoativados. Hidratações com cosméticos específicos a cada 20 dias também ajudam na fixação do tom. Para uso em casa, sempre é bom recomendar linhas de qualidade para cabelos coloridos, proteção térmica antes do uso da prancha ou do secador e finalizadores com proteção UV, mesmo em dias nublados. VIII Retocarás a cada 15 dias Esse mandamento, segundo Murilo Souza, do MG Hair Design, deve ser seguido à risca (sob pena de a alma, ou melhor, o cabelo ir para o inferno!) por profissionais cujas clientes costumam clarear mais de dois tons. Caso contrário, a raiz preta e crescente comete um pecado mortal contra o bom gosto e o bom senso. Quem tem fios castanhos-escuros, por exemplo, e aplica tintura em castanho-claro, não requer retoques tão frequentes – a partir de quatro semanas é o ideal, conforme o crescimento do cabelo. Atenção: luzes ou mechas sobre fundo escuro devem ser analisadas a dois (profissional e cliente) para determinar a freqüência de visitas ao salão. IX Manterás o brilho a qualquer custo “O brilho é uma luz refletida em superfície lisa, então precisamos estar com as cutículas seladas e polidas para que os raios luminosos rebatam corretamente”, teoriza Mauricio Morelli, que indica produtos termoativados. “Eles criam uma película protetora na fibra capilar que destaca a luminosidade. Para finalizar, o spray de brilho é um aliado e tanto, pois fixa partículas refletoras e criam a sensação de superfície lisa.” E fez-se a luz! X Acertarás na repigmentação A repigmentação é um trabalho preliminar para reconstruir a cor, bastante indicado para as louras que querem voltar à tonalidade natural ou escurecer de dois a três tons. “O ideal é repigmentar com matizes quentes, como dourado ou cobre, e jamais adotar nuances frias. Isso evita os indesejados reflexos esverdeados e chumbados”, explica Angela Carta, da Yellow. “O vermelho pode ser aplicado com água morna antes da aplicação da tintura. Dessa forma, os pigmentos são devolvidos para o cabelo antes da coloração, o que garantir a fixação da nova cor e revelação da nuance desejada”, sugere Célio Faria. “A repigmentação também é uma técnica excelente para devolver o brilho a madeixas muito desbotadas”, informa Juha Antero. Relação transparente Um novo vocábulo vem se tornando comum nos salões: transparência. Há, no entanto, muita gente com dúvida sobre de que se trata. Segundo o colorista-revelação do 1º Prêmio CABELOS&CIA, Mauricio Morelli, a transparência é um efeito criado quando não se fixam todos os pigmentos ou quando os pigmentos fixados não são suficientes para revelar a nova nuance. “Se isso acontece, perdemos a definição de cor”, explica. Em geral, o problema acontece em cabelos brancos por várias razões: mais de 50% de fios grisalhos, falta de base na mistura,impermeabilidade que dificulta a penetração das partículas coloridas, aplicação mal-realizada ou tempo de ação não respeitado. “Para que isso não aconteça, é necessário seguir as informações do fabricante do produto, usar na mistura uma porcentagem de base para dar maior cobertura, prestar atenção redobrada na aplicação e respeitar o tempo de ação”, informa Mauricio. “Se a transparência ocorrer por falta de pigmentação no branco, o ideal é aplicar água oxigenada nos grisalhos e secar logo em seguida. E só depois disso aplicar a coloração”, ensina Célio Faria. |